quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ibovespa antecipa notícias boas e patina em 2011

Crescimento do Brasil já está na conta dos investidores. Depois de dar banho nos índices dos EUA, Bovespa sofre com juros e crise

Aline Cury Zampieri, iG São Paulo | 13/04/2011 05:45

O Brasil cresce, o dólar não para de cair, o investimento estrangeiro direto bate recorde. Mas o mercado de ações não acompanha. Este ano, até o dia 11 de abril, o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, acumula queda de 1,64%. O descompasso, segundo especialistas, tem relação com antecipação de perspectivas, preço das ações, juros e crises externas.

“Os mercados de ações refletem expectativas”, conta Alexandre Chaia, professor de derivativos do Insper. Essa frase explica boa parte da apatia do Ibovespa em 2011 e também a lógica dos investidores. Significa que o crescimento do país nos próximos anos e os investimentos em infraestrutura para eventos de vulto, como Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas, já estão no preço das ações. Ou seja, os investidores compraram os papéis quando projetaram essa realidade, e não quando ela se concretiza.

Toda essa perspectiva, aliás, contribuiu para que o índice de ações brasileiro deixasse os principais indicadores dos Estados Unidos comendo poeira. Levantamento feito pelo iG com base em números da Economatica mostra que o Ibovespa subiu 298% desde 2000. Em dólares, essa alta foi de 351%. No mesmo período, Nasdaq caiu 32% e Dow Jones subiu apenas 7,6%. Desde 2008, ano que refletiu a crise financeira, a valorização do Ibovespa foi de 81,5% em reais e de 168% em dólares. Nasdaq subiu 75,7% e Dow Jones, 41% (confira nos gráficos com Ibovespa em reais e em dólares).
A abertura dos números mostra que a tendência de desaceleração da Bolsa vem desde 2010. No ano passado, o Ibovespa subiu 1,04%. Em 2009, teve alta de 82,6%. Nasdaq subiu 43,8% em 2009 e 16,9% no ano passado. Já Dow Jones teve ganhos de 18,8% e 11,02%.

Evolução dos mercados de ações no Brasil e nos EUA

Confira os altos e baixos de Nasdaq, Dow Jones e Ibovespa desde 2000, em pontos
Economatica

Evolução dos mercados de ações no Brasil e nos EUA

Confira os altos e baixos de Nasdaq, Dow Jones e Ibovespa desde 2000, em pontos (US$)
Economatica
Inflação, o alerta
Os especialistas lembram ainda que, apesar de o país continuar com boas perspectivas de crescimento, alguns sinais de alerta entram no horizonte e nas contas dos aplicadores, contribuindo para reduzir as compras. “O Brasil assistiu, nos últimos meses, a uma rápida deterioração da situação inflacionária”, diz Oswaldo Telles, chefe de análise do Banif Investiment. Na opinião dele, esse é o ponto de maior preocupação do mercado no momento. “O governo quer fazer omelete sem quebrar os ovos, ou seja, quer reduzir a inflação sem diminuir a atividade econômica, o que não é possível”, acrescenta.
Outro fator que limita as altas das bolsas é o cenário externo. Desde o começo do ano, os investidores têm sido bombardeados por crises, uma atrás da outra. Primeiro, países europeus mostram dificuldade em administrar suas dívidas. Depois, o Egito se rebela contra o presidente e desencadeia, entre outros conflitos, uma guerra na Líbia. Para piorar, o terremoto no Japão seguido de tsunami gera temores sobre uma catástrofe nuclear de grandes proporções.
“Além disso, no começo do ano, chuvas na Austrália prejudicaram os negócios de grandes mineradoras, como BHP e Rio Tinto, elevando o preço do minério”, diz Pedro Galdi, chefe de análise da SLW Corretora. “Essas elevações derrubaram as cotações das siderúrgicas na Bovespa, que são papéis importantes no Ibovespa.”
Juros, a eterna ameaça
A crise externa, em tese, deveria prejudicar todos os tipos de investimentos no mundo. Mas os recursos externos continuam chegando ao Brasil. O investimento estrangeiro direto bateu recorde, e os ingressos de recursos contribuem para que o dólar não pare de cair. A diferença, nesse ponto, está nos juros.
“O Brasil tem um dos juros mais altos do mundo e, numa situação em que os países desenvolvidos estão com taxas próximas de zero, a renda fixa local fica irresistível”, continua Telles, do Banif. Vale lembrar que boa parte do dinheiro que está entrando no Brasil ingressa via operações de carry trade, que são aplicações nas quais se toma dinheiro a uma taxa de juros em um país para depois aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores.
Já o Investimento Estrangeiro Direto está ligado ao crescimento do país e às obras para Copa e Olimpíadas. “Alguns estimam que, apenas para os eventos esportivos, o Brasil receberá US$ 300 bilhões”, diz Chaia, do Insper. Mas ele relembra: o investidor de bolsa já esperava isso, e já comprou as ações que devem ganhar com o processo.

 

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